As geadas do último fim de semana atingiram diversas regiões produtoras de café e cana nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Goiás e no Triângulo Mineiro, mas ficaram concentradas em áreas de baixada e mais localizadas.
A proporção do impacto da intempérie na produtividade ainda é incerta. Especialistas advertem que novas ondas de frio ainda podem voltar a ocorrer.
De acordo com a consultoria RPA, as geadas atingiram mais de 60% das regiões canavieiras do Centro-Sul. A distribuição e a intensidade variam conforme a localidade. “Houve algum dano [nos canaviais], mas não generalizado”, disse o professor Fábio Marin, responsável pelo Sistema Tempocampo, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
Segundo Marin, as geadas atingiram sobretudo regiões em que a cana estava rebrotando após colheita. Nesses casos, a rebrota pode atrasar e até ser necessário passar o trator na terra para fazer a cana rebrotar. Nas áreas onde as geadas atingiram pés de cana mais maduros, o trabalho será correr para colher o mais rápido possível para evitar a perda de concentração de sacarose nas plantas. “Isso pode bagunçar a programação das usinas, porque pode ter atingido áreas que seriam cortadas só no fim da safra”, disse.
Em Mato Grosso do Sul, ocorreram geadas por dois dias seguidos na região sul, que abriga 80% da produção de cana do Estado, e parte da região leste, conforme a Associação dos Produtores de Bionergia de Mato Grosso do Sul (Biosul). Segundo Roberto Hollanda, presidente da associação, as geadas ocorreram em áreas além das que normalmente são mais suscetíveis à intempérie. “Mas os efeitos só aparecem três dias depois”, disse.
Nas áreas de café, produtores e cooperativas ainda avaliam o impacto. Segundo o pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Celso Vegro, os primeiros relatos indicam que a geada teve maior intensidade no Paraná e Mogiana, em São Paulo. No Cerrado e Sul de Minas, os casos foram mais localizados. “A expectativa inicial é que as perdas não superem as 2 milhões de sacas”, projetou. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta colheita de 50,9 milhões de sacas em 2019/20.
No caso do café, a preocupação maior é com o ciclo seguinte. “A supersafra esperada para 2020/21 pode não vir mais”, disse. Embora a próxima safra seja de bienalidade positiva, se as lavouras não estiverem bem nutridas podem apresentar problemas na florada. Outra preocupação é com as áreas de renovação de cafezais. “Essas plantas novas são mais suscetíveis aos estragos causados pelo frio, ainda que não tão intenso”, disse Vegro.
De acordo com Ludmila Camparotto, agrometeorologista da Rural Clima, o frio previsto para os próximos 15 dias não deve causar geadas. “Mas não podemos descartar a possibilidade de uma ocorrência de geada semelhante em agosto”, disse.
Com informações do jornal Valor Econômico