Direto do Japão, ídolo do futebol fala de sua adaptação

Campeão paulista, brasileiro e artilheiro do Corinthians no ano passado, Jô ainda está na memória de todo torcedor alvinegro. No Japão, ele defende o Nagoya Grampus, lanterna do Campeonato Japonês. O atacante, que disputou 16 partidas e marcou seis gols, conversou afirmou que existe interferência externa durante os jogos no Brasil.

O jogador defende o uso do árbitro de vídeo – se o recurso tivesse sido usado em 2017 poderia ter anulado seu gol de mão contra o Vasco. Ele promete voltar para a equipe que o revelou e fala de seus hábitos no mundo oriental.

Como avalia os primeiros meses no Nagoya Grampus?
O time não começou tão bem, mas nos últimos jogos melhorou. A situação não é fácil, mas temos uma boa equipe e vamos nos adaptando. Aqui o jogo é mais rápido e agora estou entendendo melhor como funcionam as coisas. O método que o treinador quer impor não se aplica a curto prazo. Ele gosta de toque de bola, algo meio Barcelona, e estamos levando muitos gols por erros bobos na saída de bola.

Seu contrato vai até o fim de 2020. Pretende retornar ao Brasil?
Estou em um lugar com tranquilidade gigantesca para trabalhar. Não posso falar em voltar agora, pois estaria desrespeitando quem confiou em mim, mas é claro que a gente vai pensar com carinho quando terminar o contrato. A prioridade é o Corinthians.

Acompanha os jogos e tem falado com seus ex-companheiros?
Tenho contato com uns 90% dos jogadores. Sempre o Fábio (Carille) e eu trocamos mensagens. Difícil desvincular nem quero fazer isso. Alguns jogos são de madrugada aqui e, por isso, não consigo acompanhar. Mas eu vejo as partidas no meio da semana.

Imaginou que o time sentiria tanto a sua falta? O que pensa sobre o atacante Roger?
Não tinha como imaginar. A chegada do Roger talvez resolva isso, já que ele tem características parecidas com as minhas. Eu sou canhoto e talvez seja um pouco mais difícil marcar atacantes assim, mas nada que faça muita diferença. Eu acredito muito nele e espero que a torcida tenha paciência.

Sobre as polêmicas com arbitragem nos últimos jogos, você acredita em interferência externa?
Em alguns casos, existe sim. A televisão reprisa o lance e a informação sempre vem de fora. Várias vezes acontece de o jogador voltar do intervalo e ir falar com o árbitro que a TV mostrou o erro dele. Muitas vezes, a imprensa que fica na beira do gramado tem a informação e passa.

Já viu árbitro mudar uma marcação por ser avisado? Acha que isso aconteceu no Paulista?
Diretamente não, mas a gente pressiona o árbitro esperando que o fato de ele saber que já errou possa interferir em uma decisão futura. Na dúvida, ele pode marcar outra coisa. Sobre a final do Paulista, é difícil falar alguma coisa. Não estava no jogo.

Você se arrepende do gol de mão diante do Vasco?
Eu me arrependo de não ter revisto o gol logo depois do jogo. Na hora do lance, juro que não senti tocar na mão. Mas eu devia, ainda no vestiário, ver o vídeo e admitir o erro. Só fiz isso depois e virou polêmica.

Domingo tem Corinthians x Palmeiras. Saudades do clássico?
Muita. Minha vida mudou por causa desse jogo e aquele gol (na fase de grupos do Paulistão, em 2017). Vejo o Corinthians mais pressionado e o Palmeiras vivendo um grande momento, mas espero que o clássico seja novamente um jogo-chave para nós.

Voltando ao Japão, como tem sido a adaptação ao país?
Tranquila. Temos dois tradutores que nos ajudam e me viro no inglês também. Uma coisa que acho legal e vou levar para a minha vida é tirar o sapato ao entrar em casa para não levar a sujeira para dentro. Aqui a gente fala baixo e pode atravessar a rua no verde para pedestre.

Você sofreu preconceito?
Racial não, graças a Deus. O que acontece é que existe uma desconfiança com estrangeiro em campo. Acham sempre que a gente está simulando falta e que somos “malandros”.

 

Por Mark Grassi com informações
da página de esportes do Estadão