O déficit na balança comercial da indústria aumentou sete vezes no primeiro semestre na comparação com o mesmo período de 2017. O saldo negativo passou de US$ 1,3 bilhão para US$ 9,4 bilhões. As exportações cresceram 5,2%, somando US$ 66,5 bilhões, enquanto as importações subiram 17,8%, para US$ 75,9 bilhões.
Nos últimos dois anos, em razão da crise econômica, os déficits ficaram bem abaixo da média registrada antes da recessão. Em 2013 e 2014, por exemplo, os déficits passaram de US$ 30 bilhões, em parte por causa da valorização do dólar e de uma onda de substituição de produtos domésticos por importados.
Uma das justificativas para o déficit atual é que, apesar do pequeno crescimento da economia, algumas empresas estão substituindo equipamentos defasados por modelos mais modernos. Por outro lado, mostra que o País segue dependente do mercado externo e que o esforço de conquistar clientes externos propagado por muitas indústrias no período da crise, teve poucos resultados.
O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin, ressalta que as importações crescem em ritmo mais acelerado que as exportações mesmo com a fraca recuperação econômica. Para ele, no momento em que o Produto Interno Bruto (PIB) começar a acelerar mais, o déficit na indústria de transformação voltará a crescer fortemente.
“Na crise, havia a esperança de que o perfil importador pudesse ser amenizado com a substituição por produção doméstica e ganho de mercado externo, mas, pelo que estamos vendo, o País caminha novamente para o período pré-crise, com padrão fortemente importador”, afirma Cagnin.
A indústria de autopeças projeta saldo negativo de mais de US$ 6 bilhões para este ano em sua balança comercial, depois de ter registrado déficits na casa dos US$ 5 bilhões nos últimos três anos, valor que inclui a importação de empresas de componentes e montadoras.
As exportações de autopeças devem crescer 11,5%, para US$ 8,2 bilhões, mas as importações vão aumentar 14%, para US$ 14,5 bilhões. Um dos motivos, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), é o significativo número de lançamentos de carros, que cada vez introduzem novas tecnologias.
Outra razão, mais preocupante, é que várias peças deixaram de ser fabricadas no País com o fechamento de empresas que não resistiram à crise e a única alternativa é trazer de fora.
A indústria têxtil deve exportar US$ 1,1 bilhão durante o ano, e importar US$ 6 bilhões, projeta Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). O setor investia em média R$ 6 bilhões por ano em modernização de equipamentos, mas, em razão da elevada ociosidade das máquinas nos anos de crise, o valor caiu para cerca de R$ 2,5 bilhões. “Neste ano ampliamos em 20% o valor gasto na compra de equipamentos”, informa Pimentel, ressaltando que “o potencial é muito maior quando a economia está crescendo.”
Fábio Silveira, da consultoria MacroSector, avalia que, em razão da baixa competitividade da indústria brasileira, “quando a economia volta a crescer, não tem jeito: as importações crescem e o saldo da balança piora”.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, prevê que as importações de todos os setores vão aumentar este ano 11,5%, totalizando US$ 168,1 bilhões. Já as exportações terão alta de 3,1%, para US$ 224,4 bilhões, o que resultará em saldo positivo de US$ 56,3 bilhões, uma queda de 15,9% em relação ao valor gerado no ano passado.
“O preço do petróleo melhorou, assim como o da soja. Além disso, exportamos mais quantidade de soja por causa da quebra da safra da Argentina”, justifica Castro.
por Mark Grassi com informações do jornal O Estado de S. Paulo